LAMARCA - O capitão das guerrilhas

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Crônica dos últimos anos na vida do capitão do exército Carlos Lamarca (Paulo Betti) que, nos anos da ditadura, desertou das forças armadas, e passou a fazer oposição, tornando-se um dos mais destacados líderes da luta armada.



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O capitão da guerrilha

Lamarca revela a trajetória de um dos principais líderes da luta armada no Brasil



São raros os casos na história do cinema nacional em que um ator tenha incorporado com tanta perfeição um personagem como Paulo Betti, na época em que ele viveu o líder guerrilheiro Carlos Lamarca, dirigente da extinta Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Depois de perder 13 quilos para ficar fisicamente parecido com o capitão rebelde, que desertou do Exército para abraçar as causas revolucionárias, Betti assumiu com fidelidade seus modos austeros. O perfeccionismo foi tanto que o ator chegou a aprender até a caligrafia do capitão. A atuação de Betti é o principal destaque de Lamarca, filme de Sérgio Rezende, atração da próxima semana da série ISTOÉ - cinema brasileiro.





Quando foi lançado em 1994, Lamarca causou grande polêmica por retratar com contundência a trajetória heróica de um dos ícones dos anos de chumbo brasileiros. Sua exibição chegou a ser ameaçada. O general da reserva Nilton Cerqueira - atual secretário da Segurança Pública do Rio de Janeiro - tentou, sem sucesso, promover uma apreensão das cópias sob a acusação de que a história denegria a imagem do Exército brasileiro. O então comandante Cerqueira - que inspirou o personagem encarnado por José Abreu - foi quem comandou o cerco militar que resultou na morte de Lamarca no interior baiano.





As tentativas de proibição, no entanto, aumentaram a curiosidade em torno de Lamarca, que se tornou um grande sucesso de bilheteria e acabou sendo o estopim da decantada retomada do cinema brasileiro. Ideologias à parte, o diretor realizou um trabalho comovente que inicia com a conversão do carismático militar às fileiras esquerdistas. Foi durante uma missão no Canal de Suez, em 1956. Incomodado com a miséria na região, ele começa a refletir sobre as diferenças sociais. De volta ao Brasil, se desencanta com os rumos do País. É nesta ocasião, numa conversa com o pai, que Lamarca diz a frase emblemática: "Sempre quis ser soldado, mas mudo de exército se o nosso passar para o lado dos exploradores." Determinado, e principalmente sonhador, o capitão guerrilheiro é realmente um personagem apaixonante. Ao registrar sua trajetória, Sérgio Rezende concebeu um dos grandes épicos do cinema nacional.

Outras Informações

Carreira no Exército Brasileiro

Ingressou, em 1955, na Escola Preparatória de Cadetes, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

Dois anos mais tarde foi transferido para a Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende, no Rio de Janeiro. Concluindo o curso, foi declarado Aspirante-a-Oficial classificado em 46º lugar, numa turma de 57 cadetes (1960).

Passou a servir no 4º Regimento de Infantaria, em Quitaúna, na cidade de Osasco, em São Paulo. Integrou o Batalhão Suez, nas Forças de Paz da ONU na região de Gaza (Palestina), de onde retornou dezoito meses mais tarde. Estava ligado à 6ª Companhia de Polícia do Exército, em Porto Alegre, quando ocorreu o golpe militar de 1964.

De volta a Quitaúna em 1965, foi promovido a capitão em 1967. Iniciou contatos com facções de esquerda que defendiam a luta armada para derrubar a ditadura e, em 1969, desertou do Exército Brasileiro para unir-se à organização clandestina Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), roubando parte do armamento da guarnição para a guerrilha - 70 FAL, fuzil da IMBEL. Este furto de armamento foi organizado e executado por ele e pelo sargento Darcy Rodrigues, também integrante do quadro de Quitaúna, e quem, supostamente teria aliciado Lamarca a ingressar na VPR. Participaram,também,da ação o cabo Mariani e soldado Roberto Zanirato, morto sob tortura na OBAN (Codi-Doi/SP).

Em 2007, trinta e seis anos após a sua morte, foi promovido a Coronel do Exército pela Comissão de Anistia[1].

A luta como guerrilheiro

Lamarca tornou-se um dos mais ativos militantes da oposição armada ao regime militar brasileiro. Participou de diversas ações, como assaltos a bancos, num dos quais matou com dois tiros o guarda civil Orlando Pinto Saraiva. Em seguida, instalou um foco revolucionário no vale do Ribeira, no sul de São Paulo, desarticulado em 1970 por forças do Exército, após a prisão de vários militantes da VPR em abril de 1970, e, principalmente após a prisão de Maria do Carmo Brito, uma das dirigentes nacionais da VPR, no dia 18 de abril de 1970, o exército chegou até a área ativa de treinamento da VPR.

Nessa época, no dia 10 de maio de 1970, participou, com outros quatro guerrilheiros, do assassinato do tenente da Polícia Militar Alberto Mendes Júnior[1][2], que havia organizado uma emboscada para prender o grupo, mas o grupo do tenente foi capturado. No mesmo ano Lamarca comandou o seqüestro do embaixador suíço no Brasil, Giovanni Enrico Bucher, com o fim de permutá-lo por companheiros, presos politicos, no Rio de Janeiro. Nesse sequestro, Lamarca assassinou, com um tiro na medula, o agente da Polícia Federal Hélio Carvalho de Araújo, que fazia segurança do embaixador suíço.

Desligou-se da VPR e ingressou no MR-8. Embora se afirme que por essa razão fugiu para a Bahia, Lamarca estava seguindo planos da organização, que acreditava ter chegado a hora de iniciar a revolução no campo. Em 17 de setembro de 1971 foi localizado na região do Agreste baiano, no povoado de Pintada, atual município de Ipupiara (então desmembrado do município de Brotas de Macaúbas). Já estava cercado quando foi executado por tropas do Exército, junto com o metalúrgico José Campos Barreto, integrante da VPR.

Embora a esposa de Lamarca se encontrasse exilada em Cuba desde 1968, com os dois filhos do casal - onde recebeu a notícia da sua morte -, durante a vida na clandestinidade, Lamarca conheceu Iara Iavelberg, que se tornou sua companheira. Ela havia sido morta dias antes da morte de Lamarca, em circunstâncias não esclarecidas, em um apartamento em Salvador, na Bahia. Por ser de origem judaica, a família dela tenta até hoje provar que ela não teria cometido suicídio.

Depois de vários anos a família de Carlos Lamarca teve aprovação no pedido de Anistia. Por decisão da Comissão de Anistia, a viúva Maria Pavan Lamarca e seus dois filhos tiveram aprovados uma indenização de R$ 300 mil (isentos de imposto de renda) como compensação do período que passaram exilados em Cuba. A viúva ainda receberá uma pensão equivalente a de um general, segundo determina a própria Lei da Anistia. A pensão da viúva de Lamarca será também isenta de imposto de renda, o que não ocorre com as pensões dos militares nem com as pensões dos aposentados pelo INSS.

A opinião dos companheiros

Lamarca sempre foi uma figura controvertida, até mesmo na ótica de seus companheiros de guerrilha, desfazendo em parte o mito de unanimidade junto à guerrilha brasileira na década de 70.

Ariston Oliveira Lucena - que com ele participou do assassinato do Tenente da Polícía Militar de São Paulo Mendes em Registro - disse em entrevista publicada no Jornal do Brasil de 22 de setembro de 1988 sobre Lamarca: "... era teoricamente despreparado e politicamente sem experiência ... tinha frieza e intuição ... era autoritário e não gostava de ser contrariado ..."

Outro de seus camaradas, José Araújo da Nóbrega, ex-sargento do Exército e militante da VPR, em maio de 1970, preso e torturado na OBAN/SP, declarou de próprio punho: "O Cap Lamarca não possui um QI satisfatório, à altura de ser um líder revolucionário. É um elemento de caráter volúvel, não tem posição definida, suas decisões são tomadas seguindo suas tendências emocionais. Suas qualidades militares são limitadas, tem limites de aproveitamento prático do conhecimento técnico que possui. É pouco engenhoso. O valor político que possui para ser um líder de esquerda lhe foi dado pela imprensa (interessada ou não). As suas façanhas são limitadas e são raras, todavia é elemento audacioso."

Opiniões divergentes de outros companheiros que com ele participaram do treinamento no Vale da Ribeira. Darcy Rodrigues e José Lavecchia - assassinado pela ditadura ao voltar ao Brasil na região de Medianeira - presos pelo Exército em abril de 1970, não deixaram de contar aos demais presos da cela 2, no DEOPS/SP, sua grande capacidade de liderança, competência militar e, principalmente, extremado companheirismo.Provou rompendo o cerco do Exército,dominando um pelotão da PM sem disparar um tiro e sequestrando um caminhão militar com toda a guarnição e com ele levando aos demais companheiros a salvo até São Paulo.

Orlando Pinto Saraiva

Orlando Pinto Saraiva (?, ? de ? — São Paulo, 9 de maio de 1969) foi um guarda civil de São Paulo. Foi morto ao tentar combater um grupo guerrilheiro que assaltava dois bancos, simultaneamente, na rua Piratininga, no bairro da Mooca. Foi alvejado com dois tiros, disparados por Carlos Lamarca, que comandava a ação.

Como homenagem, seu nome foi dado a uma rua da zona norte de São Paulo.

Obras sobre Lamarca

Ao final do regime ditatorial, os jornalistas Oldack Miranda e Emiliano José editaram e publicaram o livro "Lamarca, Capitão da Guerrilha".

A obra deu origem ao filme Lamarca, lançado em 1994, dirigido por Sérgio Rezende e protagonizado por Paulo Betti. No filme Zuzu Angel, do mesmo diretor, novamente o ator interpreta Carlos Lamarca em uma cena.

Dicionário histórico-biográfico brasileiro pós-1930, coord. de Alzira Alves de Abreue outros, vol. 3, pp 3010-2.

Jacob Gorender, Combate nas trevas, p. 145.

Judith Lieblich Patarra, Iara, pp. 305-306

Homenagem

A Prefeitura do município de Ipupiara - Bahia, construiu na comunidade de Pintada, local onde Lamarca tombou, uma praça em sua homenagem, a qual contem uma estátua de Carlos Lamarca, anfiteatro, playground, fonte luminosa e cantina. A Praça Capitão Carlos Lamarca foi inaugurada no dia 13 de janeiro de 2007. O município também homenageou Lamarca criando uma lei através da qual acrescenta no calendário dos feriados municipais o dia 17 de setembro.

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