Carnaval Rio de Janeiro 1993 - Salgueiro - Desfile Completo

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A viagem do navio Ita, de Belém ao Rio de Janeiro, sacudiu a cidadeNo carnaval de 1993 o Salgueiro caminhava para seu 18o ano sem um único título. A escola atravessou anos difíceis, nos quais passou por graves crises políticas e, principalmente, financeira. Um período em que contou basicamente com a garra de seus componentes para continuar realizando bons desfiles e lutando por uma boa colocação. A escola vinha sempre entre as cinco primeiras, mas o título estava cada vez mais difícil. Os componentes estavam engasgados com o sabor incômodo do "quase chegamos lá...".



Toda essa garra serviu para que a escola, pouco a pouco, fosse se reerguendo. Já nos últimos cinco anos, a escola vinha realizando belos desfiles e voltava a mostrar seu brilho de campeã na avenida. Os dois enredos anteriores - O negro que virou ouro nas terras do Salgueiro, que ficou com o quarto lugar, e, principalmente, Me masso se não passo pela Rua do Ouvidor, que abocanhou o vice-campeonato - davam a certeza a todos os salgueirenses que o fim do jejum de títulos estava se aproximando.



Para 1993 a direção da escola manteve o carnavalesco do ano anterior, Mário Borrielo, que apresentou um enredo baseado na canção Peguei um Ita no Norte, de Dorival Caymmi. O enredo, que levou o mesmo título da canção, pretendia mostrar na avenida a viagem de um imigrante, que, a bordo do navio Ita, deixa o porto de Belém, no Pará, passa por toda a costa do nordeste e sudeste do país, até chegar ao Rio de Janeiro, onde descobre a beleza da cidade, da passarela do samba e se emociona com o desfile do Salgueiro.



Já era início da madrugada de terça-feira e o desfile vinha apenas bem comportado e luxuoso, mas sem alma. Quando o Salgueiro surgiu na cabeceira da pista, tudo mudou. Com um dos sambas mais populares do período pré-carnavalesco de 1993, o Salgueiro foi consagrado pelas arquibancadas antes mesmo de iniciar sua apresentação. Todos que estavam nos primeiros setores já aplaudiam e cantavam o samba da escola, que prometia contagiar toda a cidade. Um ânimo que se manifestou antes mesmo de os cronômetros serem disparados.



O Salgueiro surgiu na avenida possuído de empolgação, emoção, garra e graça. E mostrou com clareza o que pretendia. Todos na avenida entendiam a viagem do imigrante contada na dança que os componentes da escola desenvolviam no asfalto. A comissão de frente da escola, toda de branco, vinha representando os oficiais do Ita e abria passagem para que, ala a ala, alegoria a alegoria, o Salgueiro contasse a viagem marítima do Pará ao Rio de Janeiro. Em cada ala, uma lembrança dos diversos Brasis. Eram os fiéis da festa do Círio de Nazaré, representado na primeira das doze alegorias da escola, os vendedores de peixe do Mercado Ver o Peso; o bumba-meu-boi das ruas azulejadas de São Luís; jangadeiros cearenses, romeiros, retirantes e Padre Cícero; o frevo de Pernambuco, o maracatu, pastoris e reisados; e teve água de coco, vaquejada e cangaceiros; baianas e os quindins de Iaiá, berimbau, capoeira e o Mercado Modelo de Salvador. Todas as fantasias estavam caprichadas e adequadas ao enredo. Simples e objetivas.



O público, completamente tomado pelo que via e ouvia, cantava numa única voz o samba do Salgueiro. A Marquês de Sapucaí inteira desfilava com a escola, e todo o público, "enlouquecido", gritava antecipadamente "É campeão!", já considerando o Salgueiro como vencedor do carnaval de 1993. Sóbria e forte, a bateria comandada por Mestre Louro garantia a boa cadência de um samba que empurrava cada um dos cinco mil e quinhentos componentes da escola para frente e levava a arquibancada à loucura.



Quem assistiu ao segundo dia de desfile das escolas de samba teve certeza que esse carnaval era do Salgueiro e não tinha para mais ninguém. A escola foi consagrada pelo público e aplaudida de pé durante toda a sua brilhante passagem. O Salgueiro fez um desfile único, deslumbrante, histórico, daqueles que podem ser contados nos dedos e que poucas vezes aconteceu na avenida. Como há muito não fazia, o Salgueiro passou para ganhar.



E ganhou. Durante a apuração, o coração de todos os salgueirenses bateram descompassados, apreensivos, mas explodiram de felicidade quando foram divulgadas as últimas notas. Com dez em quase todos os quesitos - apenas um 9,5 em harmonia -, estava rompido o jejum de 17 anos sem títulos. Era um reencontro sofrido com uma vitória mais do que esperada num carnaval inesquecível, marcado sobretudo pela explosão da autêntica alegria em vermelho e branco.



O Salgueiro era novamente campeão do carnaval. No final da apuração, o presidente da escola, Miro Garcia, convocou a torcida para uma festa na quadra da escola, afinal os salgueirenses tinham muito que comemorar. Além do título, a escola completava 40 anos de fundação e ganhou quatro Estandartes de Ouro, entre eles o de melhor escola. Mais uma vez o Salgueiro pintou a cidade de vermelho e branco e cantou, como não fazia há quase duas décadas, o samba campeão do carnaval carioca: "Explode, coração, / Na maior felicidade. / É lindo meu Salgueiro / Contagiando e sacudindo essa cidade ...".



Tirado de: www.salgueiro.com.br

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