A Terceira Tradução - Matt Bondurant

A expectativa é que se esteja diante de um livro do estilo "O Código da Vinci", cuja fórmula vencedora inspirou tantos autores de livros do gênero aventura-mistério, mas, logo às primeiras páginas do instigante livro de Matt Bondurant, constata-se que ele possui algo mais, talvez não tanto ao gosto dos apreciadores da leitura fácil de Dan Brown, mas sim dos que apreciam as longas e minuciosas descrições, à la Alexandre Dumas e Victor Hugo, dos cenários que se desenrolam gradualmente sobre uma trama densa, estruturada, mas muito bem tecida. Talvez esse algo mais seja a densidade do conteúdo sobre o Egito, sua história e tradições, e especialmente, sua linguagem hierática, em torno da qual gira o principal argumento do livro, uma inextricável e alternativa tradução da Estela de Paser, estranho bloco de pedra coberto de hieróglifos que podem ser interpretados de diferentes maneiras.

Contrastando com mergulhos profundos no intrincado mundo dos escribas e dos mistérios contidos nas palavras talhadas na vetusta pedra dos templos e dos hipogeus do Egito, o autor nos fornece, com idêntica maestria, uma detalhada descrição de cenas da atualidade, do sub-mundo dark das boates e festas punk, movidas a ectasy, aos guetos das comunidades estrangeiras nos escuros e esquecidos interstícios da grande Londres. E, em acréscimo, o autor traduz com perfeição o olhar solitário de um homem descasado devido à paixão pelo trabalho, ao lado da inabilidade diante das relações humanas, amorosas, personificadas pela única filha, que vive num mundo oposto ao seu, e da improvisada companheira de uma aventura que começa na sombria imensidão das salas de exposição do British Museum, passando
pelos principais pontos turísticos de Londres, na busca de um papiro roubado por um grupo de seguidores de antigos cultos egípcios, que pode fornecer a solução do enigma de muitos milênios.